Archive for the ‘Ewerton Quadros’ Category

Especial “Além da vida”: Espírito libertário – parte 2

11/02/2015

Libertar e educar os escravos

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Movido por esse ideal e com intuito de propor soluções para o problema, o engenheiro Antônio da Silva Neto publicou três trabalhos: Estudos sobre a emancipação dos escravos no Brasil (1866), Segundos estudos sobre a emancipação dos escravos no Brasil (1867) e A Coroa e a emancipação do elemento servil (1869). Neles, defendia a libertação dos filhos das escravas, a adoção de medidas para educá-los e a extinção da escravidão no prazo de 20 anos.

Bezerra de Menezes, médico e político reconhecido na corte, tomou iniciativa semelhante e, em 1868, publicou o opúsculo A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a nação, no qual também defendia a libertação dos filhos de ventre escravo.

A proposta apresentada por ambos não era uma novidade, nem eles eram os únicos a defendê-la. Na verdade, ela estava presente nos jornais e nos folhetos que circulavam pelas ruas da corte. Além disso, tal medida encontrava-se em discussão no Parlamento, mas só seria aprovada em 1871, por meio da Lei do Ventre Livre.

Esse debate público sobre a escravidão se acirrou nos anos seguintes e fervilhou na década de 1880, quando já se defendia abertamente a necessidade urgente de abolição do trabalho escravo. Nesse contexto, a imprensa tornou-se uma verdadeira tribuna política. José do Patrocínio (1853-1905) é um caso exemplar de como os abolicionistas utilizaram os jornais para formar uma opinião pública favorável ao fim da escravidão. Atuando à frente de alguns periódicos, como Gazeta de Notícias, Gazeta da Tarde e Cidade do Rio, ele disparava constantes ataques contra o escravismo.

Nesse momento, Antônio da Silva Neto, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio e Ewerton Quadros estavam em plena militância espírita, ocupando papel de destaque em instituições espíritas da corte e contribuíam ativamente nos periódicos espíritas em circulação. As experiências adquiridas por esses homens em suas trajetórias intelectual, profissional e política exerceram forte influência na condução dada por eles ao trabalho de difusão do espiritismo no Brasil. Com suas convicções e em diálogo com os princípios espíritas, eles contribuíram para que as instituições espíritas se posicionassem diante do debate sobre a escravidão.

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Especial “Além da vida”: Espírito libertário – parte 1

09/02/2015

Por Daniel Simões do Valle

A ideia da abolição tornou-se, ao longo da década de 1880, um guarda-chuva sob o qual se agasalharam-se diferentes tendências e matizes”, esclarece a historiadora Maria Helena Machado, em o plano e o pânico. Nesse rol, podemos incluir as propostas defendidas pelos espíritas. A preocupação dos adeptos da doutrina codificada por Allan Kardec com a escravidão já vinha de longa data.

Em julho de 1869, o primeiro periódico espírita brasileiro, publicado em Salvador, assumia o seguinte compromisso: O Écho d’Além-Tumulo deduzirá de cada assinatura realizada 1$000, cuja soma será anualmente publicada e destinada para dar liberdade a escravos, de qualquer cor, do sexo feminino, de 4 a 7 anos de idade, nascidos no Brasil”.

Para alguns espíritas, o compromisso com o fim da escravidão precedeu sua conversão à doutrina. Esse era o caso de importantes lideranças do espiritismo na corte, como Antônio da Silva Neto, Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, Francisco Leite de Bittencourt Sampaio e Francisco Raimundo Ewerton Quadros. Ainda na década de 1860, eles já se haviam manifestado contrários ao trabalho escravo.

Naquela época, a proposta mais recorrente era “emancipação”, que consistia em adotar medidas paulatinas que contribuíssem para substituir gradativamente a mão de obra escrava pelo trabalhador livre. O termo “abolição” era evitado nas discussões políticas, uma vez que a possibilidade de libertar todos os escravos de uma só vez era refutada até mesmo por alguns dos que condenavam o cativeiro. Temia-se que tal decisão pudesse redundar em drásticas consequências, tais como: a desorganização da produção agrícola, a crise econômica, o despreparo do escravo para a vida em liberdade e a desordem social. Por isso, havia o entendimento de que era necessário preparar o país para a mudança.

Ewerton Quadros: entre os espíritas que já lutavam pelo fim da escravidão quando se converteram à doutrina

Ewerton Quadros: entre os espíritas que já lutavam pelo fim da escravidão quando se converteram à doutrina