Todas as culturas têm seus mitos. Elas são importantes. São uma primeira tentativa de explicar uma realidade. Fundamentam o imaginário, as crenças, as tradições e os anseios dos povos.
A civilização judaico-cristã está repleta de mitos. A criação do mundo e do homem, obras de um deus pessoal e voluntarioso; a queda da criatura humana pelo pecado da desobediência; sua redenção, por meio de um messias, concebido sobrenaturalmente pelo espírito divino e nascido em uma manjedoura, são todos episódios que a História não registra nem poderia registrar e que não se enquadram num modelo de racionalidade e historicidade.
Atento a isso, Allan Kardec, o insigne pedagogo francês sistematizador do espiritismo, inovando no campo da espiritualidade, buscou o melhor da tradição cristã do Ocidente: o sentido autêntico da mensagem de Jesus de Nazaré, o homem. Com sensatez, separou-a totalmente dos tantos mitos, dogmas e ritos que construíram a religião cristã, para fazer dessa mensagem um referencial ético e moral compatível com a ordem natural, assectária e universal.
Quem, como ele, assim dimensionar a figura de Jesus não mais se extasiará com os mitos que o envolveram, a maioria dos quais, aliás, resultantes de um amplo sincretismo para cuja formação concorreram outros tantos mitos buscados nas tradições dos chamados povos pagãos. Valorizando o verbo, superará o mitológico e o ritualístico para assimilar o real significado da presença histórica de Jesus na Terra. Compreendendo-o como um verdadeiro homem, irmão mais velho e de maior experiência, mais facilidade encontrará para tê-lo como verdadeiro guia e modelo, esforçando-se para seguir seu exemplo.
Dentro deste espírito, a presença do Mestre Jesus em nossa cultura será permanente e eficiente. Ele nascerá todos os dias em nosso coração, em espírito e verdade. Há de ser uma constante celebração a se desdobrar pela vida.
Assim mesmo, e porque isso é da necessidade humana, é natural que elejamos um ou mais dias no nosso calendário social, para, com ênfase especial, celebrarmos a vida e os afetos, com eles confraternizando. O nascimento de Jesus é celebrado, na nossa tradição, justamente ao fim de cada ano do calendário ocidental. Por isso mesmo, o momento é oportuno para a confraternização, a reafirmação de nossos sentimentos de fé, de esperança, de amizade e de renovação de sonhos e projetos.
Nesse contexto, é também momento propício para renovar nossos laços de afeto a todos aqueles que estão conosco nessa caminhada: nossos familiares e amigos, e, particularmente, aqueles que integram nosso projeto e que, como nós, reservam boa parte de suas vidas e de seus esforços em favor do aprimoramento ético do homem, a partir do dinamismo do espírito e de sua capacidade criadora.
Cada um de nós aqui está para escrever um capítulo de uma história que não perecerá no tempo e nem se deterá no espaço, pois que tem a dimensão da eternidade. Convictos da importância transcendente da vida, no novo período que se avizinha, sejamos capazes de avançar juntos e, juntos, continuarmos derrubando os obstáculos que se antepõem à realização da história que, em conjunto, estamos escrevendo.
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